quarta-feira, 4 de setembro de 2013

À mesa dos adultos

“Ficas à mesa connosco” disse-me um amigo da minha mãe em casa de quem passei uns dias este verão, querendo com isto dizer que tinha posto um lugar para mim à ‘mesa dos adultos’ (isto numa casa cheia de adolescentes).

Apesar de ter recentemente cumprido 30 anos, de viver sozinha desde os 18 e de ser financeiramente independente desde os 22, aquele convite para juntar-me ao mundo dos adultos foi recebido com um certo espanto. Não que eu não adore ser adulta e tivesse preferido sentar-me à ‘mesa das crianças’ - bem pelo contrário, nunca me senti tão bem na minha pele e nunca tive tanta confiança de que o melhor ainda está para vir. Se há uma coisa que eu NÃO desejo é voltar atrás no tempo. Daqui para a frente é sempre a'ndar.

Mas ali estava uma pessoa que me conheceu pequena, média e grande, e cuja reacção expectável seria de continuar a ver em mim a criança que fui outrora, no lugar da adulta que sou hoje. Penso que, para os nossos avós, pais, tios, irmãos mais velhos - todos aqueles que nos conheceram crianças - nós nunca ‘graduamos’ a 100% do mundo dos ‘pequeninos’. Há uma parte de nós que será sempre criança, e uma parte ‘deles’ que será sempre ‘maior’ do que nós. Ainda no outro dia levei uma tia minha às compras. Ao voltar para o meu carro, ela dirige-se naturalmente para a porta do condutor e, ao aperceber-se da situação, diz, a rir: “Desculpa, tu para mim ainda és pequena.” O que eu recebi com ternura. Afinal de contas, ela para mim ainda é ‘grande’.

É que it goes both ways. Tanto é preciso ser-se recebido entre pares à mesa dos adultos como é preciso ter vontade de agarrar esse lugar e deixar para trás o conforto de ter quem decida por nós - pelo menos o tempo de uma refeição.

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