terça-feira, 20 de agosto de 2013

A ponta do iceberg


 Regressei hoje a Lisboa após um passeio de 3 dias pelo norte do país. Foi uma estadia curta, mas soube a muito: Viana do Castelo, Moledo, Caminha, Vila Nova de Cerveira, Vigo. Foi uma delícia redescobrir imagens, traços arquitectónicos e cheiros característicos do Norte e que fazem parte das minhas memórias de infância: pequena, passei o que na altura eram dias a fio cheios de tédio, na Casa de Freitas - uma casa de família perto de Amarante. Hoje em dia, o meu olhar sobre essas estadias é naturalmente outro. Foi um privilégio conhecer essa casa mágica, chamá-la minha, e poder lá por lá deambular, brincar às ‘damas antigas’, imaginar-me protagonista no baile de ‘E tudo o Vento Levou’ onde se dá o anúncio da guerra civil americana. Foi graças à Casa de Freitas que pude brincar com montes de feno, atravessar estábulos cheios de vacas, beber leite acabado de ser ordenhado, assistir, de madrugada, ao nascimento de uma vitela, ver a Dona Emília matar a galinha que nos ia servir ao jantar, comprar patinhos pequenos no mercado, tomar banho na água gelada do tanque, ver cemitérios cheios de flores na altura do 1º de Novembro  - em suma,  viver num tempo antigo, rural, e, no que me diz respeito, desaparecido.

É assim. Isto do ‘retour au pays’ após 12 anos de emigração mexe connosco. Desde que regressei a Portugal  que uma sucessão de memórias já há muito esquecidas têm feito irrupção na minha mente. É ler o nome de uma terra que há muito visitei numa placa de sinalização na auto-estrada, é ouvir uma expressão popular, é um cheiro, uma luminosidade... e estou a reviver momentos de uma outra vida. É quentinho, e ao mesmo tempo doloroso.


Viana do Castelo

Poster de apoio às touradas no centro de Viana

Vila Nova de Cerveira

A vista de dia da casa onde ficámos
O pôr do sol, visto da mesma casa

A praia de Carreço



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